Shrek Para Sempre (Shrek Forever After)


No último capítulo da história de Shrek temos reviravoltas, apelo visual e um “Viveram Felizes para Sempre” ao quadrado.

O ogro preferido do público vai se aposentar, pelo menos é o que todos afirmam. Baseado no livro infantil “Shrek!” de William Steig, a vida deste querido (melhor dizendo, temível) ogro já virou tema musical da Broadway, de parques de diversões, especiais de TV, e claro, rendeu quatro longas metragens, sendo este último “Shrek Para Sempre”, o derradeiro episódio final.

A história é mais ou menos assim: “Era uma vez” um ogro chamado Shrek, que havia realizado diversas proezas em sua vida. Salvou uma linda princesa e se casou com ela. Enfrentou dragões, salvou reis, rainhas e reinados, enfrentou uma gangue de peso saída diretamente dos contos de fadas. Mas nada havia lhe preparado para a terrível “agonia” do casamento. O que antes parecia um sonho se mostrou um pesadelo. Se o inferno é repetição então Shrek estava lá. Todo dia a mesma coisa, ele já não lembrava como era ser temido e desprezado como todo ogro de verdade deve ser. Em meio a essa desilusão particular, o grandalhão recebe uma oferta tentadora de Rumpelstiltskin, um homenzinho enganador que, assim como seu nome, é bem invocado. A proposta oferecida é de Shrek passar um dia como um ogro normal, sem filhos, sem comitivas de turistas dando risadas dele indo ao banheiro, e por ai vai.


Claramente Shrek aceita, e literalmente aterrissa nesta diferente “Tão Tão Distante”, onde seu amigo Burro tem medo dele, o Gato de Botas é uma verdadeira bola de pelos, e sua amada Fiona nem ao menos o conhece, ela se tornou uma guerreira que lidera uma horda de ogros mal encarados. Até ai tudo bem, o problema é que Rumpelstiltskin tem algumas cartas na manga, e pode colocar em cheque a própria existência de Shrek. Mas no final “o beijo do amor verdadeiro” sempre pode salvar o verdão, o problema é que ele, “o amor verdadeiro”, parece mais difícil de ser alcançado desta vez.

A arte visual de “Shrek Para Sempre” impressiona. Pela primeira vez em 3D, o filme tem seus elementos muito bem explorados pela nova mania tecnológica da atualidade. Profundidades bem trabalhadas e uma nítida evolução de movimentos e expressões dos personagens em geral. Shrek parece simplesmente real frente ao espelho encarando sua crise de meia idade, tentando se convencer de que ainda é um ogro mau.


Em muitos quesitos o filme decepciona. Mesmo apresentando uma abordagem nova, o roteiro peca em um ponto crucial para a série: o humor. Apesar de se fazer de engraçado em alguns momentos, as cenas mais bem trabalhadas parecem ser as de ação e drama, deixando a comédia no piloto automático. É claro que comparar este quarto filme com os dois primeiros pode parecer forçar a barra (pois afinal um acerto é sempre mais fácil quando um personagem ainda está fresco), mas basta uma analise superficial para percebemos que está sequência traz pouco daquele celebrado humor ácido que a DreamWorks deu vida. Os momentos engraçados existem, principalmente com o Gato de Botas, com o vilão Rumpelstiltskin e, esporadicamente, com alguns ogros vendedores de “tapioca”, mas perto dos feitos do passado realmente é um retrocesso. Infelizmente o Burro perdeu muito de seu charme, e se antes era considerado um dos pontos máximos de humor da obra, neste não passa de coadjuvante raso.


Outro ponto falho é a distanciação dos temas musicais, outra marca da franquia. Com uma canção aqui e outra ali, a trilha simplesmente esquece as emblemáticas cenas de seus filmes antecessores, que traziam tributos a clássicos da música inseridos de forma inteligente na história, como “Immigrant Song” do Led Zeppelin, ou “Live and Let Die” de Paul McCartney e Wings, ou mesmo a “I Need A Hero” de Bonnie Tyler.

Se na parte musical o filme falha, na área dos contos de fadas ele pelo menos acerta. Inserindo novos personagens, a história mantém seu conceito de brincar com entidades clássicas desta nossa verdadeira mitologia ocidental moderna. Começando pelo próprio vilão Rumpelstiltskin, que vem do conto da menina fiadora que transforma palha em ouro, de autoria dos irmãos Grimm. Também dos Grimm temos “O Flautista de Hamelin”, mais conhecido como encantador de ratos, sendo que aqui ele encanta praticamente qualquer coisa, pois sua flauta 2.0 não perdoa nada nem ninguém. Além destas novas adições, o longa, devido a sua temática que aborda um universo paralelo, explora melhor outros personagens, como os próprios ogros, pois convenhamos, o Shrek e a Fiona não devem ser os únicos da espécie em “Tão Tão Distante”.

No final, “Shrek Para Sempre” é um filme mediano. Longe de ser excepcional como os dois primeiros exemplares da franquia, este último episódio traz um roteiro previsível. Mas com seu 3D muito bem utilizado e alguns bons momentos de ação, comédia e drama, temos uma opção válida para um fim de semana com os filhos. E novamente, “viveram felizes para sempre”.


Shrek Para Sempre/ Shrek Forever After: Estados Unidos/ 2010/ 93 min/ Direção: Mike Mitchell/ Elenco: Mike Myers, Eddie Murphy, Cameron Diaz, Antonio Banderas, Julie Andrews, John Hamm, John Cleese, Craig Robinson

[COLE AQUI]